Havia no carnaval carioca uma hegemonia de campeonatos que era revezada, na grande maioria das vezes, entre Portela, Mangueira e Império Serrano. Mas, em 1953, surgiu uma escola de samba inovadora, que, mais tarde, romperia esse ciclo contínuo de vitórias: a Acadêmicos do Salgueiro, uma fusão de outras duas agremiações da Tijuca, a Azul e Branco do Salgueiro e a Depois Eu Digo.
Naquela época, os desfiles eram desenvolvidos pelos próprios moradores das comunidades onde estavam sediadas as escolas de samba. Mas o Salgueiro quis superar esse modelo de fazer carnaval e, em 1958, convidou os artistas plásticos Dirceu Nery e Marie Louise para realizar o enredo "Viagem Histórica Pitoresca ao Brasil". Com um visual primoroso, a vermelho-e-branco impressionou os jurados e deu aos desfiles uma inovação: unir o popular do samba com a erudição estética da escola de Belas Artes.
Em 1960, entraram em cena dois personagens que fizeram história no Salgueiro e no carnaval carioca: Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. Juntos, eles desenvolveram enredos tendo como enfoque o negro e suas glórias - temática inédita na Avenida. Personagens como Zumbi dos Palmares (1960) e Xica da Silva (1963) fizeram sucesso e garantiram os dois primeiros campeonatos da vermelho-e-branco. Ainda na década de 60, o Salgueiro saiu vitorioso da Avenida outras duas vezes: em 1965, com o enredo "História do carnaval carioca", inspirado no livro de Eneida de Moraes; e em 1968, com "Bahia de todos os deuses".
O espírito inovador do Salgueiro não está presente apenas na parte plástica dos desfiles. Em 1971, a escola trouxe uma nova forma de compor samba-enredo, com letra menor e mais ágil. Era "Festa para um rei negro", de autoria de Zuzuca. Talvez seja difícil ligar o nome à música, mas é só lembrar o refrão principal para ver como esse samba é bem popular: "Ô lê lê / Ô lá lá / Pega no ganzê / Pega no ganzá". Mais uma vez, a escola sagrou-se campeã.
O desfile de 1971 foi importante também para deixar registrados três importantes nomes para o carnaval carioca: Maria Augusta Rodrigues, Rosa Magalhães e Joãosinho Trinta, que trabalhavam com os figurinos e adereços. O próprio Joãosinho, antes de trilhar sua trajetória de sucesso pela Beija-Flor, ajudou a vermelha-e-branca a conquistar o bicampeonato, em 1974-75, com originalidade e muito luxo.
A última vitória do Salgueiro veio somente em 1993, com um desfile arrebatador, empolgante e inesquecível. As arquibancadas, uníssonas, cantaram o samba que, até hoje, é entoado em quadras, festas e rodas de samba de todo o país. Os versos "Explode coração / Na maior felicidade/ É lindo o meu Salgueiro/ Contagiando e sacudindo essa cidade" fizeram o Salgueiro se reencontrar com o público, após um jejum de 18 anos sem um título.
Em 2006, a escola tentou manter seu espírito inovador levando para a Sapucaí o mundo invisível da ciência com o enredo "Microcosmos: o que os olhos não vêem, o coração sente", dos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lávia. Foi a primeira vez em que a escola apostou nesta temática, mas o resultado não foi nada satisfatório: amargou o 11º lugar, a pior posição de sua história.
Para superar esse resultado e fazer jus ao lema que permeou toda a sua história ("Nem melhor, nem pior: apenas uma escola diferente"), o Salgueiro apostou em 2007 no enredo "Candaces", que exaltou as rainhas africanas da Antiguidade. O tema, inegavelmente, ia ao encontro do histórico salgueirense de desfiles afros. O refrão do samba, inclusive, era todo em louvor aos orixás: "Odoyá, Iemanjá / Saluba Nana / Eparrei Oyá / Orayê yê o, Oxum / Oba xi oba". Apesar do luxo apresentado na Avenida, a escola ficou em sétimo lugar.